Economia

Consequências da pandemia na redefinição da economia algarvia

ANTÓNIO GUEDES DE OLIVEIRA
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Seria mesmo difícil imaginar, há uns tempos atrás, que o Algarve, pela Páscoa, estivesse isolado e votado a um silêncio apenas quebrado pelo marulhar do mar ou pelo chilrear dos pássaros a anunciar que a primavera se encontra já entre nós. Sem a dimensão humana a emprestar vivacidade às nossas cidades, sem o movimento que as vias de circulação apresentam em contante vai e vem, sem a hotelaria e espaços de animação com todo o seu movimento e a sua alegria e sem as praias a transbordar de quem, já nestes tempos, dá um mergulho no mar, o Algarve, mesmo com todo o seu poder de atração, perde parte da sua magia e vê paralisada toda a sua economia.
As previsões apontavam para um ano de excepção com o turismo sempre a crescer e para uma época balnear capaz de deixar para trás o melhor que se projectara e que alguma vez se imaginara. Com tudo a correr de feição, eis que umas nuvens negras se começam a levantar num oriente distante; mas demasiado longínquo para nos alarmar e nos colocar em estado de alerta. Só que, mais cedo do que seria de imaginar, tudo se começa a aproximar e, com grande disseminação, começa inclusive a bater à porta de cada um. E, assim, de repente vemos o COVID 19 com grande força de propagação a tentar vencer uma ciência que, arduamente, trabalha para lhe vir a fazer frente.
Com todos os avanços da inteligência artificial, da digitocracia que se começa a instalar e do domínio da natureza que parecia uma certeza, eis que um simples vírus consegue fugir à normalidade e colocar à mostra a fragilidade que, antes como agora, percorre os caminhos da humanidade. E embora a ciência continue a avançar, esta pandemia vem-nos mostrar que a natureza exige que o homem, numa atitude de diálogo e de investigação, vá penetrando nos segredos insondáveis do mistério da vida que sempre nos continuará a surpreender apesar de todo o investimento e de toda a inteligência, artificial ou não, para a compreender.
E assim, de repente, e com grande propagação, todos somos surpreendidos e confinados a um recolhimento que jamais ousaríamos pensar, até há uns meses atrás, quando estaríamos a planear umas quaisquer férias de sonho. Certamente passariam por estas paisagens tão convidativas e por estas praias tão amenas e luzidias das diversas localidades algarvias.
Mas quase que, por magia, o Algarve foi fechado e, à semelhança do país, encerrado em cada lar. Apesar do sol convidativo e das praias continuarem a sorrir, uma espécie de dor de alma atravessa-nos o coração por se sentir que praticamente as pessoas deixaram de existir. É o que se sente e o que se vê ao longo de toda a geografia da região algarvia. E como o turismo, fonte de encontro, de diversão e de usufruto das belezas da região, era o alimento da economia regional, mais do que em qualquer parte do país, as repercussões serão enormes no tecido empresarial e social.
Enquanto pelo país adiante já se começa a planear, embora em pequena escala, o retomar da economia, pelo Algarve adiante a retoma vai tardar e, quando recomeçar, vai demorar tempo a ser o que era. Com este ano quase perdido, só com a vacina na mão poderemos encarar com êxito cada verão, o ponto alto do nosso turismo. Mas se, pelas suas características, o turismo sempre continuará a ser o motor da economia regional, não se poderá continuar a depender quase em exclusivo desta monocultura em prejuízo de outras riquezas que há que incentivar e incrementar. Algumas delas, bem tradicionais como a pesca e a agricultura, ter-se-ão de incentivar pois, por estas paragens, têm óptimas condições de prosperar. Basta dizer que, devido ao seu clima, as primícias no mundo agrícola seriam um factor de competitividade e de qualidade no país e além fronteiras. O mesmo se poderá dizer da imensidão do nosso mar e das riquezas piscícolas que tem para nos oferecer. E se à pesca juntarmos a indústria conserveira que se desbaratou e praticamente desapareceu, então a tradição voltará a renascer e a dar diversidade à nossa economia. Entre nós, os primeiros passos começaram a dar-se com Congelagos a ser, por enquanto, a excepção ao retomar os caminhos da tradição.
A par de todo o tecido empresarial que nos era tradicional, ter-se-á de incrementar todo um conjunto de indústrias não poluentes que há que incentivar; a começar por aquelas que têm a ver com as potencialidades que o Algarve pode oferecer. E entre elas estão as energias renováveis. Com a imensidão dos dias de sol que, ao longo de todo o ano, nos fazem das regiões mais solarengas a nível global, poderemos, em energia, ser autossuficientes a nível regional; e, inclusivamente, vir a exportar para outras paragens.
Sem nunca perder o turismo como a principal fonte da nossa economia e sempre em mente com todo o nosso poder de atração, teremos, mesmo assim, de diversificar e de, em termos económicos, alargar as nossas fontes de subsistência, de enriquecimento através do fomento de novas iniciativas empresariais. E as actividades tradicionais, ligadas a outras não poluentes como a das energias renováveis, são caminhos a explorar para não se ficar na dependência exclusiva do sector do turismo. É o que nos vem dizer esta epidemia que nos está a fazer repensar ao abalar os alicerces da nossa economia.

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