Opinião

Construção do Algarve Exportador debruça-se sobre a via pública

ANTÓNIO GUEDES DE OLIVEIRA
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São muitas as polémicas que envolvem a construção do Algarve Exportador. Esta que foi a principal unidade conserveira, situada às portas de Lagos, impôs-se pela dimensão da sua laboração e pelas chaminés que se erguiam no ar a anunciar todo o labor que acontecia no seu interior. Mas, um dia, esta importante fábrica conserveira começou a perder dimensão e, com o tempo a passar, viria mesmo a encerrar.

Um novo capítulo se começou a abrir com a construção a anunciar novos tempos de uma economia que viria a alterar a fisionomia de todo quele espaço. Assim o apontavam os placards com edifícios que se levantavam no ar a anunciar tudo o que se iria erguer naquele interior.

Mas se as imagens já feriam qualquer sensibilidade pela sua dimensão, era patente, em relação às chaminés, a sua preservação. Também a distância em relação à via pública era notória e dava a entender que espaços amplos e comuns deixavam qualquer cidadão disfrutar e mesmo, se necessário, qualquer alargamento da via poder-se um dia processar.

Eis, porém, que novos ventos se começam a levantar e o projecto inicial é transacionada para, de imediato, vir a ser alterado. Com a anuência de técnicos e políticos que o aprovaram, a chaminé principal é derrubada, a construção agride o espaço em altimetria e estende os seus tentáculos sobre a via pública abafando-a e impedindo qualquer alargamento, presente ou futuro, que se tenha necessidade de fazer.

Parece que o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Mas, no caso da construção do Algarve Exportador, em vez de se endireitar o que vemos é que tudo continua a piorar. De facto, não dá para compreender como é que aquela construção, com tanto espaço interior, se abate sobre a via pública não deixando qualquer espaço para o simples cidadão disfrutar ou para o passeio público, se necessário, no presente ou no futuro, se alargar.

Lagos, à excepção de alguns casos pontuais como a Ameijeira, a ala nascente do Porto de Mós ou pedaços da entrada da Meia Praia, é uma cidade arrumada, com identidade e harmonia próprias. Mas as situações que se vêm perpetrando, e a do Algarve Exportador é apenas mais uma, acabam por desvirtuar, por abastardar e por desfigurar esta cidade cheia de história e cujos pergaminhos do passado deveriam determinar as decisões do presente.

E, infelizmente, os casos vão-se sucedendo. Além da monstruosidade daqueles edifícios em construção que vêm do alto da Ameijeira em direção à Avenida, vemos um edifício de menor dimensão, em formato de gaiola, situado entre as vivendas que ali se situam a nascente e esses edifícios imponentes a poente. São sinais de alguma descoordenação urbanística, da falta de harmonia que a cidade requer e desse respeito pela história e pelo urbanismo que Lagos reclama para não se adulterar.

A cidade não pode ficar fechada nos seus pergaminhos ou numa redoma que a tolha no seu interior. O seu crescimento é natural e faz parte de um processo de desenvolvimento e de relação com o seu próprio futuro. Mas esse crescimento deve estar baseado no seu urbanismo secular, na sua harmonia, na sua identidade e nessa verdade que brota da sua própria paisagem. E, para isso, quer políticos, quer técnicos, devem estar imbuídos de uma mentalidade que pense mais na cidade que se quer, a da história, do urbanismo secular, da configuração da sua paisagem, do que num crescimento voltado para o lucro, para as mais valias e para a obtenção de uma maior rentabilização. Só com esta última mentalidade se pode dizer que, para a manutenção da chaminé principal do Algarve Exportador, se perderia em redor de um milhão de euros. Por este modo de pensar, ter-se-ia de acrescentar mais meia dúzia de pisos para que os lucros a obter pudessem suplantar os que já se vão usufruir sem incluir na estrutura da urbanização a chaminé do Algarve Exportador.

Lagos ainda é uma cidade cheia de história, de harmonia, de uma configuração urbanística invulgar e de um urbanismo secular. Mas os nossos políticos e técnicos terão de estar imbuídos desta mentalidade para a preservação da harmonia da nossa cidade. E o exemplo do Algarve Exportador não é um bom caminho a seguir.

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